No dia marcado acordou trôpego, como lhe era costume. O ar fresco da manhã inundou o humilde quarto que lhe servia de abrigo e obrigou-o a deixar para trás o conforto uterino da cama. Dirigiu-se à cozinha numa moleza glandular e pôs a cafeteira ao lume. Não tardou muito a sentir o aroma reconfortante do café. Seria destas pequenas coisas que sentiria mais saudades. Serviu-se de uma chávena e encaminhou-se para o alpendre, onde as tábuas podres, roídas pelas térmitas rangiam à passagem da brisa matinal por entre as suas frestas. O velho Lorde lá estava, deitado, indiferente ao inexorável passar das luas que marca o destino dos homens, mas não dos cães. Passou-lhe as mãos pelo lombo, "estás magro, meu velho", e sentou-se na cadeira de baloiço. Enrolou um derradeiro cigarro como quem enrola os despojos de uma vida numa trouxa antes de mais uma partida a rumo incerto. Recostou-se na cadeira olhando os campos verdes que se lhe estendiam diante dos olhos, debruados pela fresca água corrente da ribeira das canas.
Ouviu ao longe um rumor de passos que se encaminhava na sua direcção vindo das traseiras. Deu uma passa no cigarro. Uma porta bateu. Sentiu tocarem-lhe o ombro.
"Faz o que tens a fazer."
Ele fez.
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