quinta-feira, 14 de julho de 2011

A Sorte

No dia marcado acordou trôpego, como lhe era costume. O ar fresco da manhã inundou o humilde quarto que lhe servia de abrigo e obrigou-o a deixar para trás o conforto uterino da cama. Dirigiu-se à cozinha numa moleza glandular e pôs a cafeteira ao lume. Não tardou muito a sentir o aroma reconfortante do café. Seria destas pequenas coisas que sentiria mais saudades. Serviu-se de uma chávena e encaminhou-se para o alpendre, onde as tábuas podres, roídas pelas térmitas rangiam à passagem da brisa matinal por entre as suas frestas. O velho Lorde lá estava, deitado, indiferente ao inexorável passar das luas que marca o destino dos homens, mas não dos cães. Passou-lhe as mãos pelo lombo, "estás magro, meu velho", e sentou-se na cadeira de baloiço. Enrolou um derradeiro cigarro como quem enrola os despojos de uma vida numa trouxa antes de mais uma partida a rumo incerto. Recostou-se na cadeira olhando os campos verdes que se lhe estendiam diante dos olhos, debruados pela fresca água corrente da ribeira das canas.

Ouviu ao longe um rumor de passos que se encaminhava na sua direcção vindo das traseiras. Deu uma passa no cigarro. Uma porta bateu. Sentiu tocarem-lhe o ombro.

"Faz o que tens a fazer."

Ele fez.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Murro no estômago

Diz o PM que a notícia da descida de notação da dívida pública portuguesa por parte da Moody's foi como levar um murro no estômago. 

Das duas uma: O Pedro Passos Coelho é um verdadeiro crente na chamada austeridade expansionista, ilusão sem qualquer base credível quer teórica, quer empírica, e não entende o "negative outlook" da economia portuguesa uma vez que até quis ser mais troikista que a troika, ou então, Pedro Passos Coelho finalmente se deu conta que o problema não é, em concreto, o estado das finanças públicas portuguesas e sim um ataque ao euro, contráriamente ao que sempre foi o seu discurso público.

Em qualquer dos casos ter-se-a apercebido que não lhe basta ser o bom aluno da europa para tirar o país do atoleiro em que se encontra, esperemos.

Pode ser que se faça homem e lute pela unica saida que existe: Uma solução europeia para um problema europeu.